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quarta-feira, 11 de julho de 2018

AMERICAS TOUR 2018 - 21



UMA PARADA EMOCIONANTE

Solon (ME) - 11 julho 2018

Meus amigos, estou em um McDonalds no meio do caminho para Franconia, meu destino de hoje. Parei para enviar um pequeno vídeo que fiz quando a Estrada, após uma de suas muitas curvas, me colocou dentro de um quadro que seria uma desfeita com a Mãe Natureza retirar-me sem me dar conta daquele momento, criado durante bilhões de anos para um velho motoqueiro a caminho do seu ocaso. Realmente estava muito emocionado mas essa não é causa da voz tremula, nem mesmo a velhice, antes que algum engraçadinho me sacaneie. O fato é que estou perdendo a voz e as cavalgaduras médicas não sabem a causa (como se soubessem algo. E eles se querem sabedores do momento exato em que começa a vida ! Bestalhões arrogantes), acho que eu mesmo vou ter de descobrir. Talvez seja melhor assim, ouvir mais e falar menos foi um conselho que me arrependo de não ter seguido..






segunda-feira, 9 de julho de 2018

AMERICAS TOUR 2018 - 20



MAIS UMA ESTRADA PARA NÃO ESQUECER

Van Buren - Trenton 9 julho 2018

Um problema logo na saída: tive um tremendo arranca-rabo como GPS. Ele esta cada vez mais insubordinado e se recusa a me obedecer. Não que lhe tire de todo a razão, às vezes nem eu mesmo me obedeço mas hoje ele passou dos limites. Não tive alternativa a não ser desliga-lo. Eu queria seguir pela US-1 e ele não aceitava meu comando de forma alguma, nem com ameaças. O velho motoqueiro que conheci ontem é da área e recomendou-me enfaticamente ir pela US-1. Trata-se de uma estrada mais antiga porém bem conservada, cortando fazendas, pequenas cidades e quase sempre margeando rios e lagos. Entre o GPS esclerosado e o velhote prefiro confiar neste último. Vamos ver no que vai dar.
Peguei a direção da saída da cidade e após algumas poucas milhas encontro uma enorme placa saudando Van Buren. A primeira vez que vi uma rua com esse nome foi em Illinois e imaginei tratar-se de uma homenagem às irmãs Van Buren. Mas uma cidade com o nome delas, apesar de serem duas gatas, achei um pouco demais. Fui pesquisar e descobri logo que se tratava de Marteen Van Buren, simplesmente o oitavo presidente dos Estados Unidos (de 1837 a 1841) e fundador do Partido Democrata.
Mas e as irmãs Van Buren ! Alguns perguntarão. Como mostra o sobrenome, eram descendentes de Marteen e apesar de ricas e frequentadoras dos altos círculos sociais, trabalhavam e atuavam na luta pelo voto feminino, entre outras coisas. Por ocasião da 1a. Guerra Mundial, em 1916 decidiram provar que mulheres poderiam pilotar motocicletas como mensageiras liberando homens para outras atividades. No ano anterior a primeira mulher a cruzar o continente americano de moto foi Effie Hotchkiss carregando sua mãe Avis no side-car. As irmãs Van Buren, Adelie e Augusta, compraram duas motos 1.000 cc e rodaram 5.500 milhas em 60 dias chegando até o México. Na época não haviam estradas, elas rodaram sobre terra, areia, lama, pedra e sabe-se lá mais o quê.
Conheci essa história no pequeno museu (com uma Amazonas brasileira no acervo) de um dealer HD no Colorado. Ele colocou a história e a foto das moças mas não a das motos. Eram Indians.....
Voltando às estradas, as dicas do velhote foram perfeitas. O Maine é um belíssimo estado. No início, com muito pouco transito, cruzamos enormes extensões cultivadas onde silos que estocam os grãos eram as únicas testemunhas de nossa passagem. À medida que descíamos em direção ao Sul a temperatura subia gradativamente. Não que ficasse desconfortável mas já dava para retirar a 2a. pele. E com isso, mais caprichada e elegante a pilotagem.
Afinal o Criador me presenteou com o sol na temperatura correta, o céu com nuvens formando o cartão postal que tento capturar com minha Canon e, para completar, a incrível sensação de estar vivo me equilibrando sobre um dos vértices de um triangulo invertido (by Cyro França).
Claro que a pilotagem tem de estar à altura, a começar da postura sobre a moto: coluna ereta, mãos pousadas naturalmente nas manoplas, pés firmemente apoiado nas plataformas (nada de pés esparramados como uma bicha louca), olhos semi-cerrados olhando para o horizonte como uma águia que caça sua presa (a policial canadense), para completar um sorriso de desdém pela curva que se aproxima velozmente. No último momento, o característico "clank" e a imediata subida dos giros a níveis másculos denunciam o engate de uma vigorosa redução de marcha. Uma leve pressão na manopla da direita e a Helô inicia seu doce balanço a caminho do ponto de tangência no lado interior da curva para a direita. A partir daí tudo se modifica (é como na dança), agora é olhar o ponto de saída e suave mas firmemente ir acelerando e levantando a moto para, quando na vertical, abrir o punho e fazer trovejar o velho Big Twin disparando corações.
E foi assim, de presepada em presepada que fui me aproximando do meu destino do dia. Paisagens lindas mas difíceis de serem fotografadas por falta de local seguro de parada. Algumas fiz do minúsculo acostamento mesmo, vocês merecem.
Fiquei impressionado em um trecho de 30 milhas coberto de bandeiras americanas de 100 em 100 metros. Recordação do 4 de Julho.
Quando cheguei ao hotel, depois de 400 milhas, cansado e imundo (um mosquitinho chamado "love-bug" nos atacou) quase caio para trás: hotel lotado e eu sem reserva. Fiz confusão com a data e além de ficar sem reserva ainda perdi a diária. A senhorinha ainda ligou para vários hoteis mas sem
sucesso. Todos lotados. Desejou-me "good luck" e botou-me para fora. Essas horas são bem chatas mas já passei por várias e no fim dá tudo certo. Liguei o GPS e coloquei na função "procurar hotel" e ele indicou-me uns 4 ou 5 em uma avenida ali por perto. O primeiro que vi tinha um letreiro interessante e foi ele mesmo o escolhido. Chiei do preço mas depois vi no Hotels.com que era o mais barato da região. Mais um que a herança dos garotos vai segurar.
Quando estacionei a moto formou logo uma mancha de óleo e o pneu traseiro trazia vestígios de óleo - um perigo. Problema para amanhã.
Por hoje já chega, pagar 80 dólares por um quarto de 2,5 x 2,5 e saber que o dono de hotel, muito risonho quando soube que eu era brasileiro, é belga ou alemão foi para encerrar o dia.
p.s. Teclei tudo isso quando estava na HD hoje resolvendo o problema da Helô (conseguimos) e quando chego no hotel para enviar perco tudo. Tive que escrever tudo novamente. A primeira versão acho que estava melhor, paciência.
























domingo, 8 de julho de 2018

AMERICAS TOUR 2018 - 19




VISITANDO AS "PLANTATIONS" DO MAINE...

Cyr (ME) 8 julho 2018

Após um papo com meus novos amigos no alpendre do hotel um rolezinho básico. Curtindo a imensidão e o silencio das fazendas do Maine. Um domingo tranquilo e de muita reflexão.
Amanhã continuamos na estrada. Abração a todos uma boa noite e orem pelo nosso país...











sábado, 7 de julho de 2018

AMERICAS TOUR 2018 - 18

HOJE O DESTINO TEVE SUAS OPORTUNIDADES...

Montreal (QC) - Van Buren (ME) 7 julho 2018

Acordei cedo, abri a porta do quarto e tenho a visão que é o sonho de qualquer motoqueiro: sol brilhando no azul metálico de um céu sem nuvens; friozinho que justificava 2a. pele e jaqueta de couro; uma bela moto estacionada na porta do muquifo; em frente, um posto de gasolina meia-bôca com a loja de conveniência servindo café aguado e o croissant que serão saboreados sem pressa, sentado na calçada ao lado da moto. Um privilegio de poucos.
Terminado o café foi só montar na Helô e pegar o transito pesado na 20-E. E isso acontecia nos dois sentidos chamando a atenção a quantidade absurda de moto-home e barcos rebocados. Qualquer ameaça de sol é motivo para os canadenses buscarem rios, praias e lagos. De qualquer forma o trânsito flui bem e dá para desenvolver 70 milhas tranquilamente mas optei por 60 a 65 milhas. Com isso cheguei a alcançar 21,5 Km por litro (89 octanas) além de reduzir a tensão a ponto de não sentir os 640 Km de hoje.
A estrada, apesar do movimento, estava uma delícia. Asfalto perfeito e curvas até que bastante razoáveis para quem vinha andando só em retas. Eu seguia na maior alegria, cuidando com carinho da pilotagem, conversando com a Helô quando, nos retrovisores, vejo uma espécie de árvore de natal: luzes amarelas, vermelhas e azuis piscando, debaixo dessa parafernália um carro branco com a palavra "police". Quase cai da moto de tanta emoção: "- É a minha policial ! Eu sabia que ela iria me procurar....". Era o que eu pensava apesar dos meus 3 cateterismos recomendarem cautela. Uma fibrilação atrial àquelas alturas do campeonato nos levaria às penalidades máximas. Mas eu não estava nem ai tal a emoção de rever a doce criatura com as algemas douradas. Sei que o dia começou maravilhoso mas obviamente não era ela. Em parte até gostei, se fosse o sonho acabaria !
Na realidade era um policial perguntando se eu o vi quando inspecionava um carro no acostamento alguns quilômetros atrás. Claro que vi, respondi. Então porque o senhor não passou para a faixa da esquerda. Nesse ponto confessei que esqueci. Ele de forma educado perguntou se eu me importava dele fazer uma checagem nos documentos da moto. Claro que não. O policial voltou, disse que não havia multas para a moto e que não iria registrar nada, mas para eu tomar cuidado pois no USA a lei é igual. Dei a ele um adesivo do Gato Cansado e pedi para fazer uma foto (inventei que iria escrever um livro) e ele concordou. Ao final ele ainda me sacaneou com a Belgica. Dessa vez não saiu o automático.
Passada a emoção continuei a tocada tranquila e notava, à medida que avançava, o frio cada vez mais intenso. Parei numa área de descanso para um café e fiquei admirando um mapa da região na parede. A faxineira perguntou-me se precisava de ajuda. Disse a ela que queria apenas me localizar. Na conversa disse para onde queria ir (Madawaska no Maine) e ela me falou que a 290 era a opção mais apropriada para motos: visual mais bonito e muitas curvas. A mulher era do ramo, aquela é a famosa "La Route des Frontiéres" . 
Foi meio trabalhoso me livrar da teimosia do GPS que tentava me levar por uma estradona de duas pistas, nova em folha e cheia de coxas e nutellas. Valeu a pena, a estrada tinha tudo o que ela falou e mais uma certa dose de emoção. Comecei tateando a uns 50 Km h e fui me soltando aos poucos confiando na qualidade do asfalto. Eis que uma placa em francês informava algo e só descobri quando me vi em cima do "grave" que cobria 50 metros do que era a pista. Não deu para fazer nada a não ser quebrar todos os recordes e rezar 8 Ave Maria e 6 Pai Nosso no espaço de 50 metros. Assustou e sosseguei o facho. 

A estrada realmente estava valendo a pena, contornado a infinidade de lagos canadenses e unindo pequenas cidades parecidas saídas de propagandas de chocolate. Em uma delas fui obrigado a parar e procurar um local adequando para meditar e matar a fome. O nome é impronunciável mas a cidadezinha é linda: Pohénégamook.

Foi uma pena deixa-la para trás mas tínhamos que seguir e encontrar a ponte que liga os dois países. Não foi difícil e lembrei-me da viagem com o Filipec ao Alaska. São dois segmentos de ponte com piso de ferro em forma de grade. A Helô rebolou um bocado mas foi tranquilo. Imagino aquilo molhado. 

A chegada à Terra de Marlboro foi o ponto alto. Você chega em Madawaska, a cidade mais à Nordeste dos USA que junto com Key West, San Izidro e Blaine formam o "Four Corners", desafio criado pelo pessoal da Harley Davidson (acho que a turma do HOG) que consiste em percorre-las em X dias (acho que 7, sei lá). Mas você não chega apenas à cidade, na realidade você dá de cara com o Four Corners Park. 
Curioso como sou tratei de subir uma rampa e entrar no tal park. Imediatamente um coroa baixinho, com cara de motociclista das antigas, veio me receber e me entregou um certificado comprovando que passei por lá. Com direito a foto no monumento e tudo o mais. O negócio é levado tão a sério que em frente ao monumento colocam placas de granito com o nome e data dos que concluíram o desafio. 

Depois dessa tratei de procurar um hotel pois já escurecia. Consegui um em Caribu a 35 milhas dali. Pilotar á noite e com frio foi a melhor forma de terminar um belíssimo dia. Juro que olhava para o céu e me sentia pilotando o meu Sopwith Camel preocupado com o patife do Barão Vermelho.
Obrigado pela paciência àqueles que chegaram até aqui.